A lenda de Faruki

Olá pessoal, sou novo no blog e postarei histórias, lendas e etc... de minha autoria.
Começando com uma lenda que escrevi há muito tempo atrás.
Não ficou lá essas coisas, mas espero que gostem pelo menos um pouquinho. xD
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A lenda de Faruki

- Ó Deus, livrai-me desta dor infeliz! - Berrava a mulher do senhor de engenho que jazia morto no chão ao seu lado. - O que fiz para merecer tal atrocidade? - Continuava a mulher agora chorando. – Não tenho culpa pelo que fizeram a você!
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Na mesma noite mais cedo, Judith se deparou com algo se movendo na mata que ficava atrás da sua casa. "Isso não pode ser coisa boa", pensava ela. Agora tinha certeza.
Era uma casa de campo não muito longe da cidade, ela e seu marido viviam juntos há cinco anos e nunca tiveram problemas. Ela, uma mulher de 30 anos e ele um homem de 32 eram muito felizes, donos de um engenho de cana que fornecia açúcar para a cidade. Diziam que não usavam trabalho escravo, pois este tipo de trabalho fora abolido há cerca de 10 anos.
Era começo de noite. Judith se despedia de seus trabalhadores que iam embora a cavalo enquanto se virava para entrar no casarão. Era uma grande casa, deixada por seu pai quando o mesmo faleceu há cinco anos. Ao lado ficava o engenho que estava sendo fechado por seu marido que se chamava João. Judith era de origem europeia e veio para o Brasil com sua família quando ainda era jovem, João era filho do prefeito com quem cresceu junto, já que os pais de ambos eram muito amigos. Sua mãe morrera um ano antes do seu pai, fora encontrada na mata vítima de algum animal selvagem. Pelo menos era o que diziam. Seu pai também foi encontrado morto com sinais de que o mesmo animal o atacara. Mesmo sabendo do perigo, Judith aceitou tomar conta da casa e do comércio em que crescera e seu amado decidiu ficar ao seu lado.
Judith e João estavam entrando na casa quando ouviram um som gutural vindo da mata ao lado. Pararam e esperaram mais um pouco.

- Irei verificar. – Afirmou João.
- Melhor não fazer isso. – Retrucou Judith.
- Tenho de ver o que é, estamos ouvindo sons parecidos há um bom tempo.
- Deve ser somente algum animal. - Ela estava com ar de preocupação.
- Tudo bem querida, vamos entrar. - Decidiu por fim seu marido.

João passou o braço pelo ombro da sua amada e ambos entraram na casa juntos. O tempo foi passando, prepararam a janta juntos e comeram. Estavam na sala conversando quando um baque foi ouvido nos fundos da casa. O silêncio predominou. Depois de algum tempo João sussurrou:

- Terei de ver o que é.
- Não vá. Temos que sair daqui! – Judith também sussurrava.
- Talvez seja somente algum animal.
- Estou com um pressentimento.
- Tudo irá ficar bem.
- Promete?
- Dou minha palavra. – Ele lhe deu um beijo na testa e saiu.

João estava caminhando pelo corredor que dava na porta dos fundos. Quando estava chegando mais perto foi diminuindo o passo, sua respiração estava ofegante, ele estava com medo. Chegando até porta percebeu o motivo do baque, a porta estava rachada de cima a baixo. Sons foram ouvidos, do outro lado risadas e sons guturais eram emitidos, pela brecha de baixo da porta viu-se um clarão. Era uma tocha. João voltou correndo para a sala desesperado. Ao chegar viu uma cena horrível, sua mulher estava nos braços de um homem alto, forte e negro com manchas pelas costas, conseguia ver, pois ele estava somente de calça.

- Parado onde está ou sua querida esposa morre. – Afirmou o homem com uma voz grossa e sem sentimento.
- O que você quer?! – Perguntou João desesperado sem poder fazer nada para ajudar.
- Quero vingança. – Respondeu o homem virando-se para João. Ele tinha o rosto deformado e os olhos brancos sem vida.
- Não lhe fizemos nada! – Exclamou João correndo pra cima do homem na tentativa de libertar sua esposa. Foi em vão. O homem levantou a perna e o chutou para longe. João caiu de costas e ficou sem ar.
- Como não? Claro que fizeram. Seus antepassados também.

•••

Aquele homem era Faruki, fora um escravo de engenho que era muito maltratado pelo pai de Judith, ela não o reconhecera, pois seu pai não a deixava vê-los. Certo dia Faruki tentou fugir e foi pego, o senhor de engenho mandou-lhe dar o pior castigo: pendura-lo em uma arvore pelos testículos enquanto os homens lhe davam chicotadas, pauladas e pedradas. Ele não sobreviveu. Foi jogado numa mata muito longe da fazenda onde vivia e ali apodreceu por dois dias até que uma senhora feiticeira o achou. Com algumas intenções, ela usara um feitiço que nunca ousou por ser poderoso de mais. Faruki voltou à vida, mas sem nenhum tipo de sentimento. A velha feiticeira o levou para sua cabana e cuidou de seus ferimentos, mas ele não sentia dor. “Alguma coisa não está certa”, pensava a feiticeira. Depois de cuidar, mostrou-lhe seu lugar de dormir e em seguida foi para o seu próprio. Acordou com uma dor infernal na sua barriga, olhou e lá estava Faruki devorando seus órgãos. A velha gritava de dor e sem sucesso tentava escapar, mas a força do homem que um dia fora Faruki era muito grande. Cansada de tentar escapar, pálida e com uma expressão de pavor, morreu chorando e gritando de dor enquanto Faruki terminava de devorá-la.
            Depois de dias, semanas e anos analisando as coisas da velha, foi se aprimorando na arte da magia. Era um dos poucos escravos que sabiam ler, aprendeu antes de ser trazido da África que era seu país de origem. Vivia de se alimentar de pessoas que conseguia capturar pelas estradas e água de riachos que jaziam ali perto. Começou a formar uma legião de escravos e animais mortos que achava e começava a trazê-los de volta a vida. Todos sofriam alterações físicas e mentais de acordo com que Faruki queria. Liderados por ele, os escravos-zumbis atacavam fazendas e pequenas aldeias como uma forma de vingança, até que chegou o grande dia. Depois de reunir escravos o suficiente, Faruki decidiu atacar a fazenda onde foi morto e logo depois a cidade de onde tinha sido vendido. E lá estava ele diante de João enquanto segurava sua esposa.

•••

            - Não temos culpa das coisas que nossos antepassados fizeram! – Gritou João ainda deitado no chão.
            - A culpa é algo que se mantém vivo no lugar onde aconteceu e seus arredores. E quem estiver no caminho da vingança, sofrerá mesmo sem ter causado sofrimento. – Falou Faruki jogando Judith para o lado e sacando um facão da sua cintura enquanto andava lentamente em direção a João. – Da mesma forma que vi uma pessoa especial morrer, sua mulher também verá.
            - Nãããããão! – Berrou Judith quando Faruki esfaqueou João na altura do pescoço fazendo com que a lâmina saísse pela parte de cima de sua cabeça. – Seu miserável! – Judith correu na direção de Faruki na tentativa desesperada de lhe fazer algo.
            - Sua tola. – Falou ele virando-se e agarrando-a pelo pescoço.
            Judith cravava em vão suas unhas na pele do grande homem, parecia que não lhe causava nem cócegas. Faruki a posicionou no chão ao lado de João, em seguida arrancou-lhe a roupa e logo depois abriu suas pernas a força.
            - Por favor, não faça isso! – Gritava Judith.
            - Da mesma forma que minha filha foi violentada por um dos homens que aqui mandavam, violentarei a filha do homem que aqui já não manda mais. – Falou Faruki e seguida começou o ato contra a vontade da mulher.
            Judith gritava de dor enquanto o homem a violentava e ao mesmo tempo a machucava de todas as formas que estava em seu alcance.
- Ó Deus, livrai-me desta dor infeliz! - Berrava a mulher do senhor de engenho que jazia morto no chão ao seu lado. - O que fiz para merecer tal atrocidade? - Continuava a mulher agora chorando. – Não tenho culpa pelo que fizeram a você!
            Faruki parou e falou:
            - Como eu já disse: a culpa é algo que se mantém vivo no lugar onde aconteceu e seus arredores. Não importa quem esteja lá, sempre fará algo de culpa. – Falou ele de uma maneira fria e logo em seguida enfiando o facão na barriga de Judith enquanto ela gritava e virava a cabeça para o lado aceitando sua dolorosa morte.
            Faruki se levantou, e foi andando em direção à saída. La fora se encontrava uma legião de escravos-zumbis que seguravam tochas e aos seus lados estavam animais deformados que os acompanhavam.

            - Vingança! – Gritou o líder levantando o braço e em seguida toda sua legião gritava em seu clamor.
            Faruki foi andando em direção à legião enquanto eles abriam espaço para o líder passar, logo depois a passagem se fechava atrás dele. Quando chegou ao fim da legião quase de encontro com as arvores virou-se para eles.
            - Agora, por fim, destruiremos a cidade daqueles que um dia nos trataram como mercadoria. – A legião gritou e aclamou.

 Virou-se e foi indo em direção à cidade. Sua legião o acompanhava, iam cortando estradas e florestas. Carregavam chicotes, facões, foices e diversos tipos de armas para fazerem com que sofram o bastante antes de morrerem.
Chegaram à cidade e foram destruindo tudo, acordando pessoas que estavam dormindo e as atacando de todas as formas que tinham ao seu alcance. Descontavam anos de raiva e dor em tudo que encontravam pela frente. Queimavam casas, tiravam crianças de seus pais e etc... Estava um caos nas ruas, pessoas correndo desesperadas, mas que eram rapidamente abatidas pelos escravos e animais deformados, eles riam e berravam enquanto faziam atrocidades com algumas das pessoas enquanto Faruki gritava ordens para todos ouvirem. Era para todos levarem as pessoas que sobrassem para a praça principal, a praça onde ele fora vendido. Chegando à praça ele estava com o prefeito em suas mãos enquanto escravos seguravam as pessoas em forma de um circulo.

- Hoje teremos vingança, hoje irei por um fim ao homem responsável por me tornar o que me tornei. Hoje meus irmãos, seremos livres. – Faruki falou algo em palavras que ninguém entendia. Os escravos e animais gritaram.
- Não precisa fazer isso! Não existe mais escravidão. – Falou o prefeito desesperado. – Eu lembro quando te vendi. Você é uma boa pessoa!
- Era. Graças a você, me vendeu para um senhor imprestável, por sua causa me tornei o que sou. – As pessoas assistiam surpresas. – Quando eu lhe matar, todos os escravos que se vingaram se libertarão, e vamos embora sem arrependimento do que fizemos.
- Não faça isso! Tem de haver outro jeito! – Gritava o prefeito enquanto Faruki o amarrava e o posicionava. – Por favor! Nããããão! – O facão lhe cortou o pescoço. O prefeito enxergou por 7 segundos logo depois tudo ficou preto.
Em seguida tudo aconteceu muito rápido, Faruki começava a se contorcer e a gritar no meio da praça, suas cicatrizes começavam a soltar brilhos vermelhos, os olhos brancos agora estavam azuis, logo depois ele se levantou.
- Todos que morreram em meu nome eram pessoas ruins. O casal da casa de engenho mantinham escravos trabalhando durante a noite e os maltratavam a ponto de matar, foram eles próprios que mataram os pais da Judith com a ajuda do prefeito, todas as pessoas aqui mortas na cidade na verdade foram castigadas por algo de ruim que fizeram, a velha feiticeira que me trouxe de volta a vida usava crianças para experimentos de magia negra, eu mesmo os vi em uma caverna que ficava ali próximo e a matei. As pessoas que eram capturadas para saciar minha fome também eram pessoas ruins. Sei disso pois ganhei um dom quando fui trazido de volta a vida e nele me aperfeiçoei. Os animais que eu trouxe de volta a vida, entre eles cavalos, cachorros e gatos, foi para se vingarem de quem algum dia lhes fizeram mal, os escravos também.  Quero que meu nome fique marcado na vida de cada uma de vocês como Faruki o Vingador e que o que fiz foi para a satisfação de cada um que eu trouxe de volta a vida justamente por que a mesma lhes foi tirada.

Faruki se fez diante dos olhos das pessoas, uma mistura de fumaça e pó de uma coloração intensa, para alguns parecia um arco-íris em uma espécie de fusão, para outros parecia uma nuvem colorida. O mesmo com os escravos e animais zumbis.
Aquela história ficou marcada na vida das pessoas, com o passar dos anos virou Lenda e tiveram várias versões. Algumas pessoas ainda dizem ver um homem negro e forte com cicatrizes nas costas somente de calça andando pelos arredores das cidades daquela redondeza. E quando existe alguma injustiça, outros juram ver o mesmo homem por algum momento, do lado da pessoa que fez a justiça. Existiram várias especulações e teorias, mas o que as pessoas nunca esqueceram foi o nome Faruki o Vingador e o que ele fez.

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Espero que tenham gostado, em breve postarei mais contos de minha autoria.
Obrigado por lerem.
#Helder John

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