Começando com uma lenda que escrevi há muito tempo atrás.
Não ficou lá essas coisas, mas espero que gostem pelo menos um pouquinho. xD
_______________________________________________________________________
A
lenda de Faruki
-
Ó Deus, livrai-me desta dor infeliz! - Berrava a mulher do senhor de engenho
que jazia morto no chão ao seu lado. - O que fiz para merecer tal atrocidade? -
Continuava a mulher agora chorando. – Não tenho culpa pelo que fizeram a você!
•••
Na
mesma noite mais cedo, Judith se deparou com algo se movendo na mata que ficava
atrás da sua casa. "Isso não pode ser coisa boa", pensava ela. Agora
tinha certeza.
Era
uma casa de campo não muito longe da cidade, ela e seu marido viviam juntos há
cinco anos e nunca tiveram problemas. Ela, uma mulher de 30 anos e ele um homem
de 32 eram muito felizes, donos de um engenho de cana que fornecia açúcar para
a cidade. Diziam que não usavam trabalho escravo, pois este tipo de trabalho fora
abolido há cerca de 10 anos.
Era
começo de noite. Judith se despedia de seus trabalhadores que iam embora a
cavalo enquanto se virava para entrar no casarão. Era uma grande casa, deixada
por seu pai quando o mesmo faleceu há cinco anos. Ao lado ficava o engenho que estava
sendo fechado por seu marido que se chamava João. Judith era de origem europeia
e veio para o Brasil com sua família quando ainda era jovem, João era filho do
prefeito com quem cresceu junto, já que os pais de ambos eram muito amigos. Sua
mãe morrera um ano antes do seu pai, fora encontrada na mata vítima de algum
animal selvagem. Pelo menos era o que diziam. Seu pai também foi encontrado
morto com sinais de que o mesmo animal o atacara. Mesmo sabendo do perigo,
Judith aceitou tomar conta da casa e do comércio em que crescera e seu amado
decidiu ficar ao seu lado.
Judith
e João estavam entrando na casa quando ouviram um som gutural vindo da mata ao
lado. Pararam e esperaram mais um pouco.
-
Irei verificar. – Afirmou João.
-
Melhor não fazer isso. – Retrucou Judith.
-
Tenho de ver o que é, estamos ouvindo sons parecidos há um bom tempo.
-
Deve ser somente algum animal. - Ela estava com ar de preocupação.
-
Tudo bem querida, vamos entrar. - Decidiu por fim seu marido.
João
passou o braço pelo ombro da sua amada e ambos entraram na casa juntos. O tempo
foi passando, prepararam a janta juntos e comeram. Estavam na sala conversando
quando um baque foi ouvido nos fundos da casa. O silêncio predominou. Depois de
algum tempo João sussurrou:
-
Terei de ver o que é.
-
Não vá. Temos que sair daqui! – Judith também sussurrava.
-
Talvez seja somente algum animal.
-
Estou com um pressentimento.
-
Tudo irá ficar bem.
-
Promete?
-
Dou minha palavra. – Ele lhe deu um beijo na testa e saiu.
João
estava caminhando pelo corredor que dava na porta dos fundos. Quando estava
chegando mais perto foi diminuindo o passo, sua respiração estava ofegante, ele
estava com medo. Chegando até porta percebeu o motivo do baque, a porta estava
rachada de cima a baixo. Sons foram ouvidos, do outro lado risadas e sons
guturais eram emitidos, pela brecha de baixo da porta viu-se um clarão. Era uma
tocha. João voltou correndo para a sala desesperado. Ao chegar viu uma cena
horrível, sua mulher estava nos braços de um homem alto, forte e negro com manchas
pelas costas, conseguia ver, pois ele estava somente de calça.
-
Parado onde está ou sua querida esposa morre. – Afirmou o homem com uma voz
grossa e sem sentimento.
-
O que você quer?! – Perguntou João desesperado sem poder fazer nada para
ajudar.
-
Quero vingança. – Respondeu o homem virando-se para João. Ele tinha o rosto
deformado e os olhos brancos sem vida.
-
Não lhe fizemos nada! – Exclamou João correndo pra cima do homem na tentativa
de libertar sua esposa. Foi em vão. O homem levantou a perna e o chutou para
longe. João caiu de costas e ficou sem ar.
-
Como não? Claro que fizeram. Seus antepassados também.
•••
Aquele
homem era Faruki, fora um escravo de engenho que era muito maltratado pelo pai
de Judith, ela não o reconhecera, pois seu pai não a deixava vê-los. Certo dia
Faruki tentou fugir e foi pego, o senhor de engenho mandou-lhe dar o pior
castigo: pendura-lo em uma arvore pelos testículos enquanto os homens lhe davam
chicotadas, pauladas e pedradas. Ele não sobreviveu. Foi jogado numa mata muito
longe da fazenda onde vivia e ali apodreceu por dois dias até que uma senhora
feiticeira o achou. Com algumas intenções, ela usara um feitiço que nunca ousou
por ser poderoso de mais. Faruki voltou à vida, mas sem nenhum tipo de
sentimento. A velha feiticeira o levou para sua cabana e cuidou de seus
ferimentos, mas ele não sentia dor. “Alguma coisa não está certa”, pensava a
feiticeira. Depois de cuidar, mostrou-lhe seu lugar de dormir e em seguida foi
para o seu próprio. Acordou com uma dor infernal na sua barriga, olhou e lá estava
Faruki devorando seus órgãos. A velha gritava de dor e sem sucesso tentava
escapar, mas a força do homem que um dia fora Faruki era muito grande. Cansada
de tentar escapar, pálida e com uma expressão de pavor, morreu chorando e
gritando de dor enquanto Faruki terminava de devorá-la.
Depois de dias, semanas e anos
analisando as coisas da velha, foi se aprimorando na arte da magia. Era um dos
poucos escravos que sabiam ler, aprendeu antes de ser trazido da África que era
seu país de origem. Vivia de se alimentar de pessoas que conseguia capturar
pelas estradas e água de riachos que jaziam ali perto. Começou a formar uma legião
de escravos e animais mortos que achava e começava a trazê-los de volta a vida.
Todos sofriam alterações físicas e mentais de acordo com que Faruki queria.
Liderados por ele, os escravos-zumbis atacavam fazendas e pequenas aldeias como
uma forma de vingança, até que chegou o grande dia. Depois de reunir escravos o
suficiente, Faruki decidiu atacar a fazenda onde foi morto e logo depois a
cidade de onde tinha sido vendido. E lá estava ele diante de João enquanto
segurava sua esposa.
•••
- Não temos culpa das coisas que
nossos antepassados fizeram! – Gritou João ainda deitado no chão.
- A culpa é algo que se mantém vivo
no lugar onde aconteceu e seus arredores. E quem estiver no caminho da
vingança, sofrerá mesmo sem ter causado sofrimento. – Falou Faruki jogando
Judith para o lado e sacando um facão da sua cintura enquanto andava lentamente
em direção a João. – Da mesma forma que vi uma pessoa especial morrer, sua
mulher também verá.
- Nãããããão! – Berrou Judith quando
Faruki esfaqueou João na altura do pescoço fazendo com que a lâmina saísse pela
parte de cima de sua cabeça. – Seu miserável! – Judith correu na direção de
Faruki na tentativa desesperada de lhe fazer algo.
- Sua tola. – Falou ele virando-se e
agarrando-a pelo pescoço.
Judith cravava em vão suas unhas na
pele do grande homem, parecia que não lhe causava nem cócegas. Faruki a
posicionou no chão ao lado de João, em seguida arrancou-lhe a roupa e logo
depois abriu suas pernas a força.
- Por favor, não faça isso! –
Gritava Judith.
- Da mesma forma que minha filha foi
violentada por um dos homens que aqui mandavam, violentarei a filha do homem
que aqui já não manda mais. – Falou Faruki e seguida começou o ato contra a
vontade da mulher.
Judith gritava de dor enquanto o
homem a violentava e ao mesmo tempo a machucava de todas as formas que estava
em seu alcance.
-
Ó Deus, livrai-me desta dor infeliz! - Berrava a mulher do senhor de engenho
que jazia morto no chão ao seu lado. - O que fiz para merecer tal atrocidade? -
Continuava a mulher agora chorando. – Não tenho culpa pelo que fizeram a você!
Faruki parou e falou:
- Como eu já disse: a culpa é algo
que se mantém vivo no lugar onde aconteceu e seus arredores. Não importa quem
esteja lá, sempre fará algo de culpa. – Falou ele de uma maneira fria e logo em
seguida enfiando o facão na barriga de Judith enquanto ela gritava e virava a
cabeça para o lado aceitando sua dolorosa morte.
Faruki se levantou, e foi andando em
direção à saída. La fora se encontrava uma legião de escravos-zumbis que
seguravam tochas e aos seus lados estavam animais deformados que os acompanhavam.
- Vingança! – Gritou o líder
levantando o braço e em seguida toda sua legião gritava em seu clamor.
Faruki foi andando em direção à
legião enquanto eles abriam espaço para o líder passar, logo depois a passagem se
fechava atrás dele. Quando chegou ao fim da legião quase de encontro com as
arvores virou-se para eles.
- Agora, por fim, destruiremos a
cidade daqueles que um dia nos trataram como mercadoria. – A legião gritou e
aclamou.
Virou-se e foi indo em direção à cidade. Sua
legião o acompanhava, iam cortando estradas e florestas. Carregavam chicotes,
facões, foices e diversos tipos de armas para fazerem com que sofram o bastante
antes de morrerem.
Chegaram
à cidade e foram destruindo tudo, acordando pessoas que estavam dormindo e as
atacando de todas as formas que tinham ao seu alcance. Descontavam anos de
raiva e dor em tudo que encontravam pela frente. Queimavam casas, tiravam
crianças de seus pais e etc... Estava um caos nas ruas, pessoas correndo
desesperadas, mas que eram rapidamente abatidas pelos escravos e animais
deformados, eles riam e berravam enquanto faziam atrocidades com algumas das
pessoas enquanto Faruki gritava ordens para todos ouvirem. Era para todos
levarem as pessoas que sobrassem para a praça principal, a praça onde ele fora
vendido. Chegando à praça ele estava com o prefeito em suas mãos enquanto
escravos seguravam as pessoas em forma de um circulo.
-
Hoje teremos vingança, hoje irei por um fim ao homem responsável por me tornar
o que me tornei. Hoje meus irmãos, seremos livres. – Faruki falou algo em
palavras que ninguém entendia. Os escravos e animais gritaram.
-
Não precisa fazer isso! Não existe mais escravidão. – Falou o prefeito
desesperado. – Eu lembro quando te vendi. Você é uma boa pessoa!
-
Era. Graças a você, me vendeu para um senhor imprestável, por sua causa me
tornei o que sou. – As pessoas assistiam surpresas. – Quando eu lhe matar,
todos os escravos que se vingaram se libertarão, e vamos embora sem
arrependimento do que fizemos.
-
Não faça isso! Tem de haver outro jeito! – Gritava o prefeito enquanto Faruki o
amarrava e o posicionava. – Por favor! Nããããão! – O facão lhe cortou o pescoço.
O prefeito enxergou por 7 segundos logo depois tudo ficou preto.
Em
seguida tudo aconteceu muito rápido, Faruki começava a se contorcer e a gritar
no meio da praça, suas cicatrizes começavam a soltar brilhos vermelhos, os
olhos brancos agora estavam azuis, logo depois ele se levantou.
-
Todos que morreram em meu nome eram pessoas ruins. O casal da casa de engenho
mantinham escravos trabalhando durante a noite e os maltratavam a ponto de
matar, foram eles próprios que mataram os pais da Judith com a ajuda do
prefeito, todas as pessoas aqui mortas na cidade na verdade foram castigadas
por algo de ruim que fizeram, a velha feiticeira que me trouxe de volta a vida
usava crianças para experimentos de magia negra, eu mesmo os vi em uma caverna que
ficava ali próximo e a matei. As pessoas que eram capturadas para saciar minha
fome também eram pessoas ruins. Sei disso pois ganhei um dom quando fui trazido
de volta a vida e nele me aperfeiçoei. Os animais que eu trouxe de volta a vida, entre eles cavalos,
cachorros e gatos, foi para se vingarem de quem algum dia lhes fizeram mal, os
escravos também. Quero que meu nome
fique marcado na vida de cada uma de vocês como Faruki o Vingador e que o que
fiz foi para a satisfação de cada um que eu trouxe de volta a vida justamente
por que a mesma lhes foi tirada.
Faruki
se fez diante dos olhos das pessoas, uma mistura de fumaça e pó de uma
coloração intensa, para alguns parecia um arco-íris em uma espécie de fusão,
para outros parecia uma nuvem colorida. O mesmo com os escravos e animais
zumbis.
Aquela
história ficou marcada na vida das pessoas, com o passar dos anos virou Lenda e
tiveram várias versões. Algumas pessoas ainda dizem ver um homem negro e forte
com cicatrizes nas costas somente de calça andando pelos arredores das cidades
daquela redondeza. E quando existe alguma injustiça, outros juram ver o mesmo
homem por algum momento, do lado da pessoa que fez a justiça. Existiram várias
especulações e teorias, mas o que as pessoas nunca esqueceram foi o nome Faruki
o Vingador e o que ele fez.
_____________________________________________________________________
Espero que tenham gostado, em breve postarei mais contos de minha autoria.
Obrigado por lerem.
#Helder John
0 comentários: