A Floresta da Calmaria

           Correr nunca foi tão difícil, era algo momentâneo, algo raro. Agora me arrependo de nunca ter tido interesse por ter praticado esse ato tão simples. Coração acelerado, pernas doendo e com câimbras, corpo ensopado de suor e respiração sem em momento algum parar para respirar mais levemente e dar um simples descanso aos pulmões.
            O desespero me faz correr mais e mais, o calor do meu corpo se mistura com o frio da chuva fazendo com que cause uma sensação horrível. Por que simplesmente não apago de cansaço? Será que o instinto de sobrevivência é tão absurdamente forte assim? ESTOU NO MEU LIMITE!
            Por mais que queira desistir não consigo. Por mais que o sangue que escorre por entre meus dedos enquanto seguro o corte em meu braço me deixe mais fraco a cada momento, me recuso a desistir. O ser que me persegue é persistente, ou será que estou correndo durante 10 minutos que mais se pareceram horas? Gostaria de saber o que aconteceu com as pessoas do meu acampamento. LISA! Lagrimas se misturaram com a sujeira e com a mistura de suor e gotas de chuva em minha face. Ela foi estraçalhada diante dos meus olhos. Maldito seja o instinto de sobrevivência e a adrenalina que me fizeram fugir! Preferia ter morrido ali, junto dela por mais doloroso e horrível que fosse. A criatura era pálida, deformada, tinha longas garras afiadas e hábeis no ato de estraçalhar barrigas, vestia um manto preto e gargalhava enquanto matava.
            Uma dor latejante encheu minha perna, um grito desumano saiu de minha boca. Dedos da minha mão esquerda foram quebrados na chance frustrada e desesperada de amortecer minha queda. “Cracs” foram ouvidos e uma dor infernal correu diante de mim enquanto gritava algo desumano e desesperado ao mesmo tempo que em que meu braço torceu para trás e a escuridão surgiu.
            Enquanto ia sendo carregado, minha visão voltava e se perdia involuntariamente enquanto me carregavam de barriga pra cima. A criatura que me perseguia segurava minhas mãos e algo que eu não consegui ver segurava minhas pernas. Altas arvores eram vistas e pingos menos densos de chuva batiam em minha cara. Estava amanhecendo quando minha visão se foi outra vez.
            Acordei amarrado em um tronco grosso, morto e velho no meio de uma clareira, parecia uma grande arvore. Minhas roupas estavam encharcadas de algo que se parecia gasolina. Aconteceu muito rápido: criaturas de todas as formas saíam da mata gritando em vozes altas e guturais algo que mais se parecia algum tipo de ritual. Símbolos brancos me rodeavam enquanto cinco criaturas que se diferenciavam das outras se posicionavam em cada ponta de uma estrela invertida envolta em um circulo em que eu me encontrava no meio. As vozes estavam mais altas e eufóricas enquanto uma tocha foi passada para cada uma das cinco criaturas. Quando o ritual foi se tornando cada vez mais rápido, pararam todos de uma vez. Os cinco jaziam perto do tronco em que eu me encontrava e todos disseram em perfeita sincronia: “Com isso aprenderá que não se deve entrar em florestas habitadas e destruir o seu sossego”.
           Minha pele ardia e queimava, meu grito era abafado enquanto o fogo penetrava meus pulmões. Em súbito desespero ergui minha cabeça e pude ver outros corpos amarrados acima, meus amigos que foram destroçados jaziam cada um amarrado em diferentes posições e não um acima do outro. Por fim senti fogo encontrando fogo no meio da minha garganta e tudo ficou escuro. Encontrei a calmaria que ali antes existia.

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